sábado, 2 de outubro de 2010

Somos amigos.


Uma ligação na madrugada? Ah, aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo. Foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós. Beijos, abraços e uma mão querendo segurar a outra? Amigos também fazem isso. Não? Prefiro pensar assim. Se eu for muito, mas muito escrota, talvez eu me proteja de me assustar muito. Caso você seja escroto. Eu sendo de pedra não quebro com a sua pedra. Sei lá.
Aí teve aquela cena de quando eu fui te dar tchau com o cabelo todo bagunçado e rindo, e por incrível que pareça sem vontade de me agarrar a algo ou alguém e chorar pela sua ida. E você me olhou e eu quis gritar: não esquece de mim. Não gritei. Talvez porque saiba que eu sempre fui e vou continuar sendo sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia iria embora.
Somos amigos. Não é amor. Mesmo que você ainda venha e fique sem vontade de ir embora. E a gente se olhe e se abrace e se beije o tempo inteiro. Ainda assim não é amor. Nada disso. Só estávamos aqui, juntos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer e vontade de fazer sexo.
Só isso. Eu assino embaixo esse ''contrato''. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que o contrato ainda pode ser refeito. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é  bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno e se resumir a nós dois. Não me deixa assim rindo a toa. Não faz piada porque minha cara não tá boa e quer me ver rindo. Não canta pra mim. Não dança comigo.  Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.
Não é amor.  Mas esse algo que é, é realmente muito libertador, ao mesmo tempo em que aprisiona. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro da faculdade, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitados.
Porque esses todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo.
Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.
E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor.
E eu vou rir quando você me contar das suas meninas. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Não existe ninguém aqui dentro. 
Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono, eu vou deixar. 



[Adaptação de 'O Contrato, de Tati B.] 

1 comentários:

Shuzy disse...

Achei o nome do meu blog nesse post!
hehe

(*;

Olha aí!

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